Sexta-feira é dia bem bom,
com este solão tá uma belezura! Tô aqui faceira limpando os vidros na casa do
bonitão do porcelanato, aquele que parece meio fresco, como é mesmo que se diz
agora: meterosexual? É deste tipinho que a gente não sabe bem o formato da
bolacha que gosta. Gente, cês não imaginam a tonteira que eu tô, tudo gira, a
janela aqui mais tá parecendo o vai e
vem do parquinho. Bebidinha bem boa aquela do vidro bonito, a tal da Amarula. Bem
que a Clarineusa, minha amiga bem entendida das bebida, me contou que era bem
bom tomar este negócio. Ao meio-dia eu não tava muito com fome, resolvi tomar
um pouco, aquilo até que parece um todinho, uma cor bonita, bem cremosinho, achei que
servia como alimento. Só que eu fui
tomando aquilo, tomando e me empolgando... Bebi quase toda a garrafa, e ela
tava quase cheia quando eu comecei o serviço, deixei um bocadinho só. Tomara
que o patrão bonitão não arrepare, senão tô frita, não tô em momento de perder
mais uma faxina.
Gente lá embaixo parece que
tem um monte de anão, eu tenho o maior medo de anão, desde criança, não sei o porquê,
os coitados nunca me fizeram nada, nadinha mesmo. Parece que eu vejo anão pra
tudo quanto é lado, a casa tá sendo invadida por anões. Tem anão moreno, negro,
branco, ruivo, japonês. Grito, peço ajuda da vizinhança, mas só chega mais e
mais anão. É uma invasão de anão! Um arrastão! Grito mais e mais, pulo, pego
uma vassoura pra espantar este monte de anão, mas não consigo. Cada vez chega
mais e mais anão, agora eles tão subindo as paredes da casa, uns dançando,
outros rindo alto. Chega então um anão, me agarra forte pelo braço e me expulsa
do apartamento, Sabe que até que olhando assim de relance ele parece um
pouquinho com o meu patrão, este mesmo, o bonitão do porcelanato.